*fonte: OS ANJOS FALAM, Pierre Weil, Amyr Amidem, Roberto Crema e Jean-Yves Leloup – Pg. 48-49: Do claudicar à dança da paz.

A experiência do Anjo é esse ferimento no interior de nós mesmos, essa dificuldade de integrar a luz com a matéria. Mas devemos lembrar-nos de algo: quando vemos alguém que manca, quando o vemos de longe, não sabemos se ele está mancando ou dançando.

Visto por Deus, pelo mais profundo e mais elevado de nós mesmos, não chegamos a saber se mancamos ou dançamos…

Talvez seja esse realmente o caminho de nossa existência: aceitarmos, em primeiro lugar, que mancamos. Aceitarmos que não estamos integrados, que não conseguimos segurar juntos, de um lado nossos sonhos de amor e de paz, e, de outro, a realidade da violência do mundo.

Ficamos com um pé em cada pólo da realidade e nosso coração se dilacera entre essas duas vivências. Assim, somos tentados a dizer: Não! A Luz não existe! Não é possível amar. Ou então, temos tendência a negar a existência do mal, da violência, da injustiça, e pensamos que só existe a beleza, só existe Deus.

Trata-se de segurar estes dois aspectos juntos. Aceitarmos que nosso coração está dilacerado; que algo em nós está na alegria e, ao mesmo tempo, há algo que chora. Lágrimas e risos juntos.

É o que encontramos em Francisco de Assis. No seu rosto existe algo que reflete a alegria e, ao mesmo tempo, ele chora. Por que o Amor não é amado. Ele também manca, tentando segurar juntos estes dois mundos.

No entanto, à medida que nosso caminho avança, essa enfermidade, essa impossibilidade de segurar juntos os contrários talvez se torne uma dança.

Essa é a grande mensagem do Anjo: Aceita que és coxo. Aceita que o mundo não seja o ideal e que, dentro de ti mesmo, há o pior e o melhor. Há, também, o pior do que o pior de ti mesmo, e o melhor do que o melhor de ti mesmo. Aceita mancar entre os contrários e, às vezes, ficar desequilibrado e, outras vezes, cair para um ou outro lado. Cair em êxtase, no encantamento e, outras vezes, cair no desespero, em uma tristeza infinita.

Por essa aceitação, descobrirás que, segundo teu modo de mancar, essa é a própria dança da vida. É a dança da vida que encarna em ti e mantém juntos os contrários, os opostos. Pelo teu desequilíbrio, por esse ferimento na coxa, essa dificuldade de articular o céu com a terra, a articulação entre o mais humano e o mais divino, por tudo isso, é a dança da vida. A dança silenciosa da vida, que dá um outro passo avante e compartilha, com todos os seres vivos, algo dessa compreensão que é a coincidência dos opostos.

Se vocês desejarem escutar esta mensagem do Anjo, será preciso toda uma vida para compreendê-la. Para entender que, certas coisas consideradas como contraditórias em determinados momentos de nossa existência, tornam-se complementares em outros. O preto e o branco dançam juntos; o pior e o melhor dançam juntos; a pior violência e a maior das compaixões, neste momento, vivem juntas.

Podemos viver tudo isso como um dilaceramento ou como um passo, um passo doloroso, às vezes, em direção a esta dança que chamamos de paz.

Um comentário para “A Dança da Vida”

  1. Ana Maria da Cunha disse:

    Adorei! A tempos queria ler algo sobre Roberto Crema.

    Meus agradecimentos. Vou ler mais.

    Ana Maria

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