“O ciúme, esse sentimento que muitos homens e mulheres vivem quando sentem que o ser que queriam ter exclusivamente para eles está a escapar-lhes, provoca sempre muitos sofrimentos. É muito difícil vencê-lo. O único método eficaz é aprender a situar o seu amor nas regiões superiores. Uma mulher que ama um homem por causa da sua inteligência, da sua ciência, do seu espírito, da sua bondade, não deseja que o maior número possível de pessoas lhe reconheça essas qualidades, o aprecie e queira estar com ele? Se o objeto do seu amor forem as qualidades intelectuais e espirituais desse homem, ela não se agarra a ele, à sua presença física, pois o que ela ama nele é algo subtil, impalpável, que nada nem ninguém pode tirar-lhe. E o mesmo é verdade para um homem em relação a uma mulher.

Quereis escapar às garras do ciúme? Educai o vosso amor, elevai-o a um plano superior. O ciúme está indissociavelmente ligado ao amor sensual. Enquanto estiverdes fisicamente presos a um ser, querereis que ele só vos pertença a vós. Amai-o espiritualmente e desejareis apresentá-lo aos outros para que eles também apreciem as suas qualidades.”

 
“A maior parte dos humanos tem uma concepção tão limitada do amor que, no momento em que um homem e uma mulher se encontram, esquecem o mundo inteiro, já nada existe para eles. Ainda não estão habituados a viver o amor de uma forma mais ampla, eles empobrecem-no, mutilam-no; já não é o amor divino que jorra e sacia os seres.

O verdadeiro amor é aquele que abarca todas as criaturas sem se limitar, sem ganhar raízes junto de uma só. Por isso, de ora em diante é preciso que os homens e as mulheres sejam instruídos em concepções mais amplas, é preciso que eles sejam menos possessivos e ciumentos: o marido deve regozijar-se por ver a sua mulher abrir o seu coração ao mundo inteiro e a mulher também deve ficar feliz por o seu marido ter um coração tão vasto. Isso não os impede de permanecerem fiéis um ao outro.

Quando dois seres verdadeiramente evoluídos casam, à partida eles concedem um ao outro esta liberdade; cada um regozija-se por poder amar todas as criaturas na maior pureza. A mulher compreende o marido, o marido compreende a mulher, e ambos se elevam, caminham juntos para o Céu, pois vivem a verdadeira vida, a vida ilimitada.”

 
“Os homens e as mulheres que se amam sentem a necessidade de se encontrar, de se aproximar, de viver juntos, e isso é natural. Mas, se faltar à sua relação uma verdadeira dimensão interior, pode-se prever desde logo o fim do seu amor.

Analisai-vos: quando vos sentis habitados pela presença sublime de um ser querido, constatais que não é absolutamente necessária a sua presença física para vos sentirdes com ele. Se sentirdes fortemente a necessidade de uma presença física, é porque estais a sair do vosso mundo interior, e aí correis o risco de vir a ter grandes sofrimentos, pois quem vos diz que as circunstâncias não vos privarão, um dia, do ser que amais?…

Quando sois habitados por uma presença interior, as circunstâncias exteriores têm menos influência sobre vós. É um critério: se, ao pensardes naqueles que amais, sentis tanta alegria como quando os vedes, sois livres, e essa alegria já não vos deixa.”

 
“O amor é essa capacidade de arrancarmos de nós mesmos o que nos é mais caro para o darmos. Mas esta qualidade raramente se manifesta. O mais frequente é ver-se seres ocupados a lutarem não só para manterem o que possuem mas também para se apoderarem, se conseguirem, daquilo que pertence a outros.

Será razoável perder tanto tempo e tanta energia quando, em breve, se será obrigado a deixar tudo? Sim, um dia a morte chega e, quer o homem queira, quer não, de um momento para o outro ela despoja-o de tudo. Por que é que ele não aprendeu a dar antes da hora da morte? Nesse momento, de boa vontade ou contra a sua vontade, ele tem de abandonar tudo. Só lhe restam a luz e a alegria que ele adquiriu por saber dar.”

 
“Como conservar o vosso amor? Como fazer para que ele dure o máximo de tempo possível? Evitando precipitar-vos sobre o ser que começais a amar, para o devorar. Porque, após essas grandes ebulições, depressa virá a lassidão e vós perdereis a inspiração e a alegria. Como alguém que comeu demasiado e a quem a comida já não diz nada. Mas os humanos parecem ter sempre pressa de destruir tudo o que pode trazer beleza à sua vida e dar-lhe um sentido. Eles sacrificam, por alguns minutos de prazer, o amor que lhes traz todas as bênçãos, que lhes traz o Céu. Por que é que eles não retardam as manifestações físicas do seu amor para prolongarem durante o máximo de tempo possível a sensação de deslumbramento que estão a viver?

Não, eles sentem uma atração e têm de dar-lhe sequência imediatamente.

E então o que é que se passa? Mesmo quando eles se casam e têm filhos, continuam a viver juntos por hábito, para respeitar as convenções, para fazer boa figura perante os amigos e os familiares; mas, interiormente, já se deixaram há muito tempo.

São as sensações subtis que mantêm o amor, que prolongam e embelezam a vida. É isso o verdadeiro elixir da vida imortal.”

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