“Pensai em ligar-vos conscientemente à cadeia viva das criaturas a fim de beneficiardes das correntes de energias que circulam de alto a baixo na criação. Será assim que recebereis o impulso, a inspiração, a sabedoria, o amor e as forças necessárias para a vida quotidiana. Perguntar-me-eis: «Mas não poderemos encontrar tudo isso em nós mesmos?» Durante algum tempo, talvez, mas depressa esgotareis as vossas reservas. Mesmo que tenhais iniciado grandes projetos, tereis de interromper os trabalhos, porque é impossível realizar algo de grandioso se não se estiver ligado a essa cadeia viva cujo primeiro elo, se assim se pode dizer, é o próprio Deus. É exatamente como uma lâmpada que imaginasse que consegue iluminar sem estar ligada à central elétrica. Não consegue, é a central que lhe envia a corrente; a lâmpada é apenas um condutor.
Na realidade, quer queiramos, quer não, nós estamos ligados à Fonte Divina, mas esta ligação deve tornar-se consciente: desse modo, nós beneficiaremos dela plenamente para a nossa evolução e a de todas as criaturas do universo.”
“Uma pessoa tem um pesadelo, sonha, por exemplo, que está a ser perseguida. Ela corre, corre, e depois abre-se diante de si um abismo vertiginoso para onde ela cai… Que angústia! Mesmo depois de despertar, durante alguns minutos ela ainda fica perturbada como se aquilo que acabou de sonhar fosse a realidade. Que conclusão é possível tirar desta experiência? Se se pode tomar o sonho por realidade, também se pode considerar a realidade como um sonho. Sim, e é o que fazem os sábios. Seja o que for que lhes aconteça, eles dizem: «Eu estou a sofrer, estou angustiado, sinto-me perseguido, mas trata-se de um sonho e, quando eu despertar, não restará um vestígio de tudo disto.»
Vós direis que todos estes raciocínios não vos impedirão de sofrer. Claro que não, mas aqueles que têm pesadelos também sofrem: agitam-se na cama, gritam; no entanto, o que os faz reagir assim não é a realidade. Aliás, é isso mesmo que eles dizem para si próprios quando acordam. Então, quando estiverdes a sofrer, dizei para vós próprios que isso não é a realidade.”
“Em tudo é necessário ter a noção da medida. Sim, mesmo para a bondade, pois, se não se tiver essa noção, sofrer-se-á consequências, necessariamente. Não ter a noção da medida não é mau nem criminoso, mas é uma falha, e todas as falhas implicam uma sanção.
Vou dar-vos um exemplo. Eu recebo uma jovem que me diz: «Oh, Mestre, eu sou tão infeliz! Choro dia e noite. – Mas porquê? O que é que lhe aconteceu? – Ora… Eu amava tanto o meu marido, adivinhava todos os seus desejos, rodeava-o de tanto afecto, de tanto calor, e ele deixou-me, foi-se embora com uma das minhas amigas. – Ah! E como é que é essa amiga? – Oh, ela é egoísta, fria. – Pois bem, é precisamente essa a infelicidade: você é muito quente e ele foi refrescar-se.»
Dir-me-ão, evidentemente: «Então, a bondade não serve para nada?…»
Infelizmente, a bondade cega pode levar qualquer um às piores situações. Mesmo as pessoas mais maravilhosas, se não tiverem a noção da medida, terão dissabores. Isso não é um castigo, não; mas, não sabendo qual é a medida certa, elas fizeram agir uma lei e recebem algumas ‘pancadas’.”
“Os humanos raramente fazem juízos objetivos sobre si mesmos, e isso aplica-se também aos espiritualistas.
Alguns, embora muito evoluídos, ficam assustados com a imensidão da Ciência Iniciática, com a distância que os separa do objetivo a atingir, sentem-se miseráveis, e essa opinião negativa que têm de si próprios paralisa-os.
Outros, pelo contrário, completamente limitados, tomam-se por grandes Iniciados, génios, divindades. Como nada na sua vida justifica a opinião que têm de si mesmos, vão consultar supostos médiuns ou clarividentes que, tendo interesse em enganar as pessoas para atrair clientes, lhes contam histórias fantásticas sobre as suas encarnações: eles foram santos, profetas, génios, todo o tipo de celebridades e glórias da História. Mas, de que pode servir-lhes isso se, actualmente, a realidade lhes mostra, todos os dias, a que ponto eles são pobres e vulgares? Um dos maiores entraves ao progresso espiritual é estar iludido sobre as suas encarnações passadas. Aqueles que querem avançar, evoluir verdadeiramente, não devem perder o seu tempo nos clarividentes, mas sim estudar e trabalhar para aprenderem a conhecer-se. É tendo uma apreciação exata de si mesmos que eles avançarão.”
“Aparentemente, só se vê injustiças na terra. Uns têm tudo – saúde, beleza, riquezas, talentos, virtudes – e outros muito pouco. Mas, na realidade, nada do que os humanos receberam ao nascer lhes foi dado de forma arbitrária. Eles trabalharam nas suas encarnações anteriores para obterem tudo o que têm hoje, e a Justiça cósmica distribui-lhes dons equivalentes aos seus esforços: a riqueza material, intelectual ou espiritual.
Tudo o que possuímos é a consequência de uma vida de esforços, mas isso não nos é dado definitivamente. Para o mantermos nas próximas encarnações, temos de o usar com razoabilidade e, sobretudo, fazer com que seja benéfico para os outros. Nós devemos fazer frutificar todos os dons que recebemos ao nascer, e a melhor maneira de os fazer frutificar é utilizá-los não apenas para nós, mas para ajudar os outros, facilitando a sua evolução.”
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