“Vós comeis alguns frutos e esses alimentos, depois de digeridos e assimilados, contribuem para o bom funcionamento de todo o vosso organismo. Que Inteligência é essa que é capaz de levar a cada órgão do nosso corpo aquilo de que ele necessita para nós podermos continuar a viver? Como podemos não ficar admirados perante ela?… Graças a esses alimentos, vós podeis continuar a ver, a ouvir, a respirar, a saborear, a tocar, a falar, a cantar, a caminhar. E até os vossos cabelos, as vossas unhas, os vossos dentes, a vossa pele, etc… vão beneficiar com eles. Sim, como é possível não ficar tomado de admiração perante tal Inteligência? Deveis pensar mais nela. Procurai descobri-la e manifestar-lhe o vosso reconhecimento.
O que é essencial na alimentação não é a matéria dos alimentos. O essencial são as energias que eles contêm, a quinta-essência aprisionada neles, pois é aí que está a vida. A matéria dos alimentos é apenas um suporte. É, pois, a quinta-essência que nós devemos procurar atingir através dessa matéria, para alimentarmos também os nossos corpos subtis. Considerar que nós comemos só para alimentar o nosso corpo físico é um erro: nós comemos para alimentar também o nosso coração, o nosso intelecto, a nossa alma e o nosso espírito.”
“Quando se fala de alimentação, é preciso saber que se trata de uma questão muito vasta, pois ela não se limita só à comida e às bebidas que tomamos a cada refeição. A alimentação pode ser igualmente de sons, perfumes, cores, mas também de sentimentos e pensamentos. Alimentar-se assim é, evidentemente, mais difícil, mas é possível. Em certos casos, vós também podeis fazê-lo; aliás, por vezes fazei-lo sem sequer vos aperceberdes. Não vos aconteceu já passar um dia inteiro sem ter fome por estardes absorvidos nas vossas atividades, ou estardes tão cheios de amor que vos sentis alimentados?
Qualquer sentimento de amor espiritual e qualquer pensamento de sabedoria são alimentos: eles transformam-se e alimentam mesmo o nosso corpo físico. Esforçai-vos por tomar conscientemente esses alimentos.”
“Como é que a humanidade pôde sobreviver e desenvolver-se na terra? Graças à agricultura. E em que é que consiste a agricultura? Em pôr no solo sementes e plantas. Com o tempo, uma semente produz centenas de outras sementes e uma planta torna-se uma árvore coberta de frutos. Assim, para se viver na abundância é preciso pelo menos começar por semear uma semente, por plantar uma árvore.
No mundo espiritual, tal como no mundo físico, se vós quereis receber amor, luz, alegria, todas as bênçãos do Céu, também deveis semear, plantar. Mas aí, evidentemente, as sementes e as plantas são de outra natureza: pensamentos, sentimentos, atos, palavras, olhares, sorrisos, inspirados por tudo o que tendes de melhor no vosso coração e na vossa alma. E, em retorno, recebereis uma abundância de flores e de frutos.”
“De manhã, quando assistis ao nascer do Sol, pensai que aqueles raios que vêm até vós são criaturas vivas que podem ajudar-vos a resolver os vossos problemas daquele dia. Mas só os problemas daquele dia, não os do dia seguinte. No dia seguinte, é preciso irdes de novo consultá-los, e de novo só para um dia. Essas entidades nunca vos darão respostas para daí a dois ou três dias. Elas dirão: «É inútil fazer provisões para mais do que um dia. Quando voltares amanhã, responder-te-emos.»
Todos os dias nós comemos e não fazemos provisões no nosso estômago para uma semana, mas para um dia apenas, e no dia seguinte recomeçamos. Pois bem, com a luz deve ser a mesma coisa, pois a luz é um alimento que nós devemos absorver e digerir diariamente para que ela se torne em nós sentimentos, pensamentos, inspirações… Por que é que não se tem em relação à luz a mesma lógica que em relação à alimentação?”
“Imaginai que pusestes na terra sementes de uma planta que vós sabeis que dá flores magníficas, mas ignorais que ela só floresce de cem em cem anos. Plantas assim são raras, mas existem. Então, vós esperais com inquietação e começais a ficar perturbados… A vossa impaciência só prova que não conheceis a natureza dessa planta que dá flores tão belas. E há outras sementes que dão flores ao fim de apenas algumas semanas; evidentemente, isso agrada-vos mais, mas essas flores também são mais comuns…
Qualquer atividade em que vos envolveis é como uma semente que colocais na terra. Se obtendes rapidamente resultados, ficais satisfeitos; mas questionai-vos, de vez em quando, sobre se essas sementes que se desenvolvem tão rapidamente são as melhores. Muitas vezes, é precisamente o contrário.”
“Aonde vos conduzirá a prática da filosofia, da ciência e da arte se primeiro não estiverdes bem alimentados e vivos? O que importa, antes de tudo, é alimentar-se, estar vivo, e depois podeis praticar todas as disciplinas, se tiverdes gosto por elas, tempo e capacidade para isso.
Nas universidades, nas academias, dá-se aos estudantes muitos conhecimentos, mas eles não são alimentados. Por isso, têm as pernas trémulas, o coração vazio e nevoeiro nos olhos. Na escola dos grandes Iniciados, pelo contrário, alimenta-se bem os estudantes, e, quando eles estão fortes e robustos, dá-se-lhes uma charrua, explica-se-lhes como lavrar a terra e eles são postos a trabalhar. Vós direis: «O quê? Uma terra para lavrar? Que terra?» A que cada um possui: a sua cabeça. Aqueles que sabem lavrar e plantar boas sementes na sua própria terra comerão até à saciedade durante toda a vida. Os outros só verão crescer cardos, espinhos e silvas, que não só não lhes serão úteis, como os prejudicarão a eles e a quem os rodeia.”
“Quer seja física, afectiva ou intelectual, qualquer actividade é acompanhada por uma combustão. Ela acarreta, pois, a formação de detritos que é preciso eliminar, pois a sua acumulação cria entupimentos nocivos ao bom funcionamento do organismo.
Quando é preciso acender o fogo num fogão de sala, por exemplo, se não se tirarem primeiro as cinzas da véspera, o fogo não pegará, o fogão não funcionará. Sucede o mesmo com o organismo físico e também com o organismo psíquico, o domínio dos pensamentos e dos sentimentos. Por isso, deveis melhorar a vossa maneira de viver, isto é, a maneira de comer, de pensar, de sentir, de amar, pois desse modo substituís os elementos nocivos, poluídos, por outros muito mais subtis, mais leves, mais etéreos.
É assim que alimentais o vosso fogo interior e vos sentis apoiados ao longo de todo o vosso caminho.”
“Pela nutrição, nós entramos em contacto com a Natureza, mas esse contacto pode ocorrer de diferentes maneiras. Vós pegais numa maçã, tirais-lhe a casca com uma faca, cortai-la aos pedaços e comei-la: tendes uma certa sensação. Se derdes uma dentada na maçã, tereis uma sensação diferente.
Ide a um pomar, puxai um ramo de uma macieira e começai a comer uma maçã sem a colher; é ainda diferente: sentis como o fruto é vivo e tendes uma sensação de plenitude, uma alegria que a própria árvore vos transmite, porque ela está ligada à terra e ao céu e capta forças da terra e do céu. Enquanto comeis, vós estais em contacto com uma corrente de energias puras. Por intermédio do seu fruto, a árvore pôs-vos directamente em contacto com o Universo.”
“Como estão fixas ao solo, as plantas são obrigadas a suportar o calor, o frio, o vento, a tempestade… São, é certo, condições penosas, mas, apesar disso, as plantas crescem e florescem. E como são belas as suas cores e agradáveis os seus perfumes! O espiritualista, simbolicamente, está exposto às mesmas condições difíceis que as plantas.
No entanto, estas condições são muito preferíveis às que escolhe o preguiçoso que fica abrigado no seu “celeiro”. No celeiro, é certo, as sementes não estão expostas às intempéries, mas correm outros perigos muito mais graves: apodrecer, ser devoradas pelos ratos ou pelos vermes e, sobretudo, não servir para nada de bom. Ora, ser inútil é o pior dos destinos.
Plantado na vida espiritual, o homem esbarra em obstáculos, mas, pelo menos, está no bom caminho: ele cresce, defende-se, cria.”
“Do ponto de vista da anatomia física, o homem tem dois olhos, dois ouvidos e uma boca. Mas, do ponto de vista da anatomia espiritual, há três olhos, três ouvidos e duas bocas, em correspondência com os três planos, físico, psíquico e espiritual. O terceiro olho, o olho místico, está situado no centro da testa. O terceiro ouvido está situado na garganta. A segunda boca situa-se no topo da cabeça: é o chacra Sahasrara, o lótus das mil pétalas, e com esta segunda boca nós podemos falar e comer nas regiões espirituais.
A oração e a comunhão não são outra coisa senão uma forma de falar e de se alimentar no mundo divino.
Quanto à terra, o nosso planeta, ela também possui órgãos semelhantes aos nossos. A sua boca superior são as altas montanhas, pois é pelos seus cumes mais elevados que a terra está em comunicação com o Céu.”
“É bom jejuar de vez em quando pelo menos vinte e quatro horas. Aquele que sabe como jejuar compreende que o jejum é uma outra forma de se alimentar. Sim, quando se priva um pouco o corpo físico de alimento, são os outros corpos, mais subtis – etérico, astral e mental – que começam a alimentar-se. Quando o nosso corpo físico não recebe todo o alimento a que está habituado, é dado um alerta e, como há no organismo entidades que velam pela nossa sobrevivência, vêm então, de uma região mais elevada, entidades que nos proporcionam o que nos faz falta e nós começamos a absorver certos elementos subtis que se encontram na atmosfera. Por isso, a nossa respiração melhora e, pouco depois, sentimo-nos alimentados, pois, embora ele não tenha vindo do plano físico, foi realmente um alimento que nós recebemos. E se, durante alguns segundos, pararmos de respirar, serão outras entidades, mais elevadas, dos planos astral e mental, que nos alimentarão.
O jejum é, realmente, uma outra forma de alimentação. Só que, para praticar esta alimentação, é preciso estar instruído e tomar precauções. Jejuar é perigoso para aqueles que não sabem que é preciso respeitar certas regras.”
“O autodomínio é uma aprendizagem difícil. Mas podeis começar por exercícios muito simples, como o de aprender a controlar os vossos gestos durante as refeições. Na mesa existem travessas, pratos, garrafas, copos, facas, etc. Esforçai-vos por deslocá-los sem que eles batam uns nos outros e vereis depois que, durante todo o resto do dia, essa harmonia vai refletir-se nas vossas diferentes atividades.
Mas não basta ter o cuidado de não fazer barulho, aprendei também a concentrar a vossa atenção nos próprios alimentos. Procurai deixar as vossas outras preocupações de parte para pensar somente nos alimentos, maravilhando-vos com tudo o que Deus pôs neles como forças, energias, vitalidade… Quando tiverdes aprendido a comer nesse estado de harmonia, sereis capazes de assumir todas as tarefas quotidianas sem vos fatigardes, e isso simplesmente porque fizestes aqueles exercícios enquanto estivestes à mesa.”
“Os seres humanos, para subsistirem, precisam de uma alimentação material, consistente. Mas no mundo invisível há criaturas que se alimentam somente de perfumes, de cores, de sons. Por certo muitos de vós acharão difícil admitir que, para além dos reinos mineral, vegetal, animal e humano, existem regiões povoadas por criaturas invisíveis aos seus olhos e diferentes de tudo o que eles podem conhecer. Mas, na realidade, o Universo inteiro está cheio das criaturas mais extraordinárias, que foram contactadas por seres com qualidades psíquicas muito desenvolvidas, e essas criaturas alimentam-se realmente de luz, de cores, de perfumes e de sons.
Para os humanos que nós somos, a luz, as cores, os sons, os perfumes, não podem ser considerados como alimentos muito substanciais. Mas, para essas entidades formadas de matéria muito subtil, eles representam não só forças, poderes, mas também um alimento.”
“Se os humanos se dispusessem a compreender que no seu organismo psíquico ocorrem os mesmos fenómenos que no seu organismo físico, já seria um progresso. Eles sabem que, se respirarem um ar poluído, se comerem alimentos de má qualidade, introduzem no seu organismo impurezas que este não consegue eliminar; em consequência disso, as trocas com a natureza já não se fazem corretamente. Do mesmo modo, se eles não estiverem atentos aos seus pensamentos, aos seus sentimentos e aos seus atos, introduzem impurezas no seu organismo psíquico; essas impurezas formam uma cortina opaca e, evidentemente, as comunicações com o mundo divino ficam cortadas.
Aqueles que se lamentam, dizendo: «Eu rezo, peço a ajuda do Céu, mas não recebo qualquer resposta», devem começar por aceitar esta resposta: o mundo divino envia-lhes continuamente mensagens, mas eles devem preparar-se para as receber. E preparar-se significa melhorar a sua forma de viver trabalhando sobre os seus pensamentos, os seus sentimentos e os seus atos no sentido de os purificar.”
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