“Quando tendes a revelação de uma verdade espiritual, não deveis ir imediatamente falar dela aos outros para os convencer de que também devem aceitá-la. Começai por experimentar longamente essa verdade, fazei exercícios com ela até ela se tornar carne e osso em vós, até ela formar uma unidade convosco. Se quiserdes convencer os outros dela imediatamente, perdê-la-eis.
Por mais que desejeis partilhar as vossas descobertas, começai por guardar para vós certas verdades espirituais. Vivei com elas, tornai-as vossas, para que elas vos esclareçam, vos iluminem, vos apoiem e vos ajudem a triunfar nas provações que tereis de atravessar. Assim, não só elas já não vos deixarão, mas também, no dia em que falardes delas aos outros, fá-lo-eis com uma tal convicção, com uma tal tónica de autenticidade, que conseguireis que eles as aceitem.”
“Quando assistis ao nascer do Sol, concentrai-vos nele e dizei: «Assim como o Sol se ergue sobre o mundo, que o Sol espiritual do amor, da sabedoria e da verdade se erga no meu coração, na minha alma e no meu espírito.» Estas palavras pronunciadas favorecem a realização: assim como o Sol nasce na natureza, o Sol espiritual nascerá em vós. Durante o período da Lua crescente, à noite, antes de adormecerdes, dizei: «Tal como a Lua se enche, que o meu coração se encha de amor, que o meu intelecto se encha de luz, que a minha vontade se encha de força e que o meu corpo físico se encha de saúde e de vigor.» E na primavera, quando surgem as primeiras folhas e as primarias flores, dizei: «Tal como a natureza desabrocha, que todo o meu ser desabroche e floresça, que toda a humanidade viva na eterna primavera!»
A verdadeira magia branca é isto: estar atento à vida da natureza, associar-se a ela e pronunciar este tipo de fórmulas. E assim tornar-vos-eis filhos e filhas de Deus, pois, pela palavra criadora, pela palavra que criou o mundo, criareis incessantemente, por toda a parte, um mundo novo.”
“O mundo mineral caracteriza-se pela sua imobilidade. As árvores crescem, mas ficam agarradas ao solo. Os animais deslocam-se e alguns têm a possibilidade de executar uma grande variedade de movimentos; mas esses movimentos são ditados pelo instinto. Só o ser humano, porque possui consciência, é capaz de controlar os seus movimentos e também de lhes dar um sentido. Deste modo, cada gesto que fazemos e cada palavra que pronunciamos podem ter uma repercussão no plano espiritual.
Muitas vezes, concentrar-se, meditar e orar não é suficiente: para despertar as forças do espírito, nós precisamos de um ponto de partida no plano físico. E esse ponto de partida pode ser o gesto, a palavra. O gesto e a palavra têm sempre um poder mágico: através deles, nós desencadeamos no mundo invisível correntes que contribuem para a realização na matéria.”
“Estai atentos a cada palavra que pronunciais, porque existe sempre na Natureza um dos quatro elementos – terra, água, ar ou fogo – esperando o momento em que poderá vestir de matéria tudo o que vós exprimis.
A realização ocorre, com frequência, muito longe da pessoa que deu os germes para que ela ocorresse, mas ocorre infalivelmente. Assim como o vento leva as sementes até muito longe, as vossas palavras voam e vão produzir, algures no espaço, resultados bons ou maus.
Então, habituai-vos a falar com amor às flores, às aves, às árvores, aos animais e aos seres humanos, pois essa é uma atitude divina.
Aquele que sabe dizer as palavras que aquecem, vivificam, inspiram e acendem o fogo sagrado possui uma varinha mágica na boca.”
do livro Revelações do Fogo e da Água
“Um homem sozinho ou uma mulher sozinha não podem gerar um filho; para isso, são precisos os dois. Mas, pela palavra, cada um separadamente pode tornar-se criador graças aos dois princípios, masculino e feminino, que estão contidos na sua boca: a língua e os dois lábios. Os Evangelhos são bem uma ilustração desta verdade. Foi graças à omnipotência do verbo que Jesus fez milagres. Ele disse ao paralítico «Ergue-te, pega no teu leito e anda», e o paralítico andou. Para ressuscitar Lázaro, ele foi até junto do seu túmulo e gritou com voz forte: «Lázaro, sai!» Para ressuscitar a filha de Jairo, ele pegou-lhe na mão e disse: «Criança, ergue-te!» Quando curava os possessos, ele ordenava ao demónio: «Sai deste homem!» Quando curou um leproso, ele disse: «Quero que fiques purificado!» Quando amainou a tempestade, ele disse ao mar: «Silêncio! Acalma-te!»
Mesmo a maneira como o nosso corpo está construído encerra todo um conhecimento sobre os dois princípios, masculino e feminino. Ele ensina-nos que é só em baixo, no plano físico, que os dois princípios estão separados: fisicamente, a não ser em casos muito excepcionais, um ser humano só pode ser homem ou mulher. Mas no alto, no plano divino, os dois princípios estão reunidos como estão reunidos na boca; só no alto é que o ser humano é criador e livre.”
“Os adultos afirmam que gostam das crianças e que se preocupam com a sua educação, mas nem sempre sabem como agir em relação a elas; e, em particular, não estão suficientemente atentos ao modo como lhes falam. Muitos pais e educadores estão sempre a chamar-lhes incapazes, imbecis, etc., e as crianças, sugestionadas, hipnotizadas, ao fim de algum tempo tornam-se realmente estúpidas e incapazes.
É preciso saber que a palavra é poderosa, actuante, e que aquilo que os adultos dizem às crianças pode ter uma influência muito má sobre elas, pode bloqueá-las, assustá-las. Será mesmo necessário ameaçá-las com o lobo, o polícia, o diabo ou não sei mais o quê para as tornar obedientes ou as manter sossegadas? Essas crianças poderão vir a sentir-se ameaçadas, em perigo, durante toda via, e está aí a origem de certas neuroses nos adultos.
Há muitas coisas que os adultos devem corrigir em relação às crianças, senão, na realidade, aquilo a que eles chamam educação será uma demolição.”
“Isto é bem sabido: a palavra é uma arma de dois gumes. Ela pode esclarecer, ajudar, libertar, mas também subjugar, ferir, massacrar. Há muitas pessoas que, depois de terem destruído alguém com as suas censuras e recriminações, se mostram bastante satisfeitas consigo mesmas e se justificam, dizendo: «Mas eu disse aquilo para bem dele. Era o que ele precisava de ouvir. Eu apenas fui sincero.» Na realidade, acima de tudo foram eles que sentiram necessidade de exprimir a sua irritação, o seu descontentamento, e usam o bem dos outros e a sinceridade como pretextos.
Por que é que só quando estão dominados pela cólera é que alguns se mostram, supostamente, sinceros? Eles que se analisem um pouco! Podem apresentar todas as boas razões que quiserem: enquanto o seu propósito não for verdadeiramente desinteressado, espiritual, os humanos nunca conseguirão produzir, com as suas palavras, efeitos benéficos sobre os outros.”
“Vós só tendes o direito de criticar nos outros as fraquezas que já conseguistes vencer em vós. Sempre que proferis um juízo negativo sobre alguém, vós mesmos sois julgados. Por quem? Pela vossa consciência, pelo vosso tribunal interior. Eleva-se em vós uma voz que questiona: «E tu, que te pronuncias assim, tens a certeza de que, de uma maneira ou de outra, não tens esse defeito?… Por que é que, a essa fraqueza pela qual já és culpado, acrescentas a falta de indulgência, a falta de amor? Não sentes que, no teu coração, na tua alma, estás a perder alguma coisa?»
É esta a punição infligida a quem julga os outros quando não tem esse direito: há luzes que o deixam. Alguns dirão: «Mas nós nunca ouvimos essa voz de que está a falar!» Claro que não a ouvem, porque fizeram tudo para se tornar surdos.”
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