“Hoje em dia – é espantoso… – podeis encontrar Iniciados por toda a parte, mesmo nos cabarés e nos lugares de prazer! E como é que podeis reconhecê-los? Oh, é simples, são eles que o dizem: «Eu sou um Iniciado.» Alguns até acrescentarão que atingiram o sétimo, o oitavo ou o nono grau da Iniciação, e os ingénuos, os cegos, regozijam-se: encontraram um Iniciado que, em alguns dias, vai iniciá-los também a eles; que bênção!

No passado, ninguém conhecia os Iniciados, a não ser aqueles que os procuravam sinceramente e sabiam distingui-los. Eles nunca diziam que eram Iniciados, permaneciam secretos, ignorados, ocultos. Como o Eremita da nona carta do Tarot, esse ancião que tem na mão uma candeia e a resguarda nas dobras da sua capa para a esconder dos olhares da multidão. É esta a imagem do verdadeiro Iniciado. “

 
“Alimentar um ideal de vida espiritual não pode transformar-vos em alguns meses ou mesmo em alguns anos. E não é por terdes tomado esta ou aquela resolução acertada que as coisas sucederão exatamente como vós decidis. Infelizmente, não é assim tão fácil fazer os instintos obedecerem à vossa vontade, fazer triunfar em vós a sabedoria e a razão. Porquê? Porque é precisamente nesse momento que outras forças despertam também em vós para se oporem à realização dos vossos bons projetos. E, então, o que é que pode suceder? Quando virdes que não conseguistes aquilo que esperáveis e no prazo que tínheis definido, ireis desanimar, ficar amargurados e importunar os outros com as vossas desilusões.

Não podeis tomar melhor decisão do que a de seguir o caminho da luz, do autodomínio. Mas ficai a saber quais são as dificuldades inerentes a isso, senão os resultados poderão ser piores do que se continuardes a viver uma vida vulgar.”

 
“Não se pode provar a existência de Deus pelo raciocínio: os argumentos de que se dispõe são tão fracos! E até se injuria o Senhor imaginando que um raciocínio, por mais subtil que seja, conseguirá provar que Ele existe. Como é que se pode provar a seres que são cegos a realidade que é a luz a não ser conseguindo que eles recuperem a vista?

Por isso, um Mestre espiritual não se preocupa em provar a existência de Deus nem a existência de um mundo, que nós não vemos, para além do mundo físico. Ele faz da existência de Deus e do mundo invisível a base implícita do seu trabalho e é a partir dela que constrói. Quando se dirige aos seus discípulos, ele não se questiona se estes têm fé ou não. E é porque ele age assim que, um dia, os discípulos já não terão dúvidas ou interrogações acerca da existência de Deus e entrarão em comunicação com as realidades do mundo invisível. “

 
“Quando sentis uma grande alegria, não vos abandoneis a ela sem contenção. Pelo contrário, estai vigilantes, e preparai-vos mesmo para algumas situações desagradáveis com acontecimentos ou no contato com pessoas das vossas relações. Sim, deveis contar com isso, porque, se fordes descuidados, negligentes, sereis apanhados desprevenidos.

É uma lei: dado que tudo está ligado, quando ocorre um movimento numa certa região, desencadeia-se imediatamente um movimento inverso numa outra região. Então, quando recebeis uma boa notícia, por exemplo, ou sois bem-sucedidos numa determinada situação, ficai imediatamente em alerta, ficai a saber que uma corrente negativa se prepara já para vos atacar e preparai-vos para vos defenderdes. Se não estiverdes prevenidos, deixar-vos-eis surpreender e correreis o risco de perder tudo o que esse momento de graça vos trouxe.”

 
“O que caracteriza a vida é que ela nunca é a mesma: ela corre, circula e transforma-se, deslocando os seres e as coisas. Um dia, surge-vos um problema para resolver e conseguis resolvê-lo usando um certo método. Mas no dia seguinte surge-vos outro acontecimento e já não conseguis fazer face a ele empregando os mesmos métodos, tendo a mesma atitude que na véspera: sois obrigados a adaptar-vos a esta nova situação.

Deste modo, a vida apresentar-vos-á sempre problemas diferentes para resolver e cada um exigirá uma solução particular. Ontem, por exemplo, a solução era um gesto de bondade, de generosidade.

Mas hoje a situação a resolver é diferente e, neste caso, o que vos ajudará será o raciocínio, a firmeza ou mesmo a obstinação. Noutra ocasião, será a indiferença ou o esquecimento… Procurai, pois, adaptar-vos à situação de cada dia.”

 
“Os humanos não são levados naturalmente a entrar na situação uns dos outros, e é daí que provêm tantos erros de julgamento, tantas crueldades e injustiças. Que sabeis vós da situação de uma determinada pessoa no momento em que ides pronunciar-vos a seu respeito?… Então, antes de a criticar, de a acusar, pelo menos durante alguns minutos esforçai-vos por vos pôr no seu lugar: nesse momento, talvez vos apercebais de que, se estivésseis na sua situação, agiríeis dez vezes pior do que ela.

Vale a pena tentar entrar na situação das pessoas que vos são desagradáveis e que estais prontos a condenar. Bastam alguns minutos deste exercício para adquirirdes qualidades de paciência, de indulgência, de doçura e de generosidade, que serão benéficas para vós e também para elas.”

 
“Antes de empreender o que quer que seja, o sábio começa por refletir, considera todos os elementos do trabalho a executar, do problema a resolver; depois, faz intervir o amor, isto é, o gosto, o interesse pela tarefa a realizar; finalmente, decide começar a trabalhar para concretizar o seu projeto. Pode-se dizer, por isso, que aquilo que o sábio concebeu convenientemente pelo pensamento é depois reforçado e vivificado por ele com um sentimento de amor e, finalmente, ele realiza-o graças a uma vontade sem falhas.

E vejamos agora como a maioria dos humanos procedem. Eles lançam-se bruscamente na ação sem terem estudado bem o projeto e, evidentemente, encontram obstáculos, sofrem, lamentam-se, e só depois de se terem lamentado muito é que acabam por refletir nas causas dos seus insucessos. Pois bem, é um pouco tarde, eles deveriam ter começado pela reflexão.”

 
“É natural ter medo. Mas este instinto, tão necessário à sobrevivência da espécie humana, pode assumir formas completamente irracionais, tão irracionais que causou a perda de muitos homens e mulheres, em vez de os salvar. Por isso, há que exercitar-se a vencer o medo antes de ter de enfrentar grandes perigos.

Todos os dias sois bruscamente confrontados com fatos ou situações que podem inspirar-vos receio. Mesmo que sejam só palavras… Por exemplo, uma pessoa ameaça privar-vos de qualquer coisa a que dais muito valor ou opor-se a um dos vossos bons projetos. Em vez de ficardes imediatamente com medo e de ripostardes de forma agressiva, de sair batendo com a porta, ficai calados, permanecei tranquilos, pois, se reagirdes impulsivamente, isso só agravará a situação. Quem sabe se são apenas ameaças no ar? E, mesmo que sejam reais, conseguireis enfrentá-las melhor se souberdes manter o sangue frio. Procurai rememorar todas as ocasiões em que, por medo do que considerastes ser um perigo, reagistes impulsivamente e depois lamentastes a vossa reação.”

 
“Vós estais habituados a tomar a vida como ela vem, sem pensar que os acontecimentos são uma matéria que é preciso preparar, tal como se prepara os alimentos cozinhando-os e acrescentando-lhes certos ingredientes: azeite, vinagre, sal, pimenta, etc. Do mesmo modo, vós não comeis os peixes tal como eles são pescados, nem os legumes tal como são tirados da terra.

A cozinha é, pois, a arte de tornar comestíveis, e até suculentos, produtos de toda a espécie que seriam indigestos ou insípidos se não fossem limpos, cozinhados e temperados. O mesmo sucede com a felicidade. A felicidade é o resultado de uma verdadeira cozinha interior. Os bons momentos da existência não vêm apresentar-se a vós espontaneamente e vós não os colheis como se colhe o fruto maduro de uma árvore, ao passar. Deveis aprender a trabalhar sobre cada situação, e particularmente sobre as situações difíceis, dolorosas, acrescentando-lhes elementos do vosso espírito e da vossa alma, isto é, elementos da sabedoria e do amor divinos.”

 
“Um Mestre foi um dia visitado por um homem jovem que queria tornar-se seu discípulo. Então, o ensinamento começou e, na primeira lição, o Mestre disse ao discípulo: «Vai a um cemitério e insulta os mortos; escuta bem o que eles responderem e depois vem relatar-me o que foi.»

O homem, obediente, foi até ao cemitério e começou a caminhar entre os túmulos, proferindo horrores. Nunca os mortos de um cemitério tinham escutado algo semelhante! Pouco depois, quando lhe faltou a inspiração, ele parou e ficou à espera da resposta: nada. Quando voltou para junto do Mestre, teve de admitir que as suas injúrias não sortiram qualquer efeito, os mortos não tinham reagido. Disse o Mestre: «Ah, talvez eles tenham pensado que as tuas injúrias não mereciam resposta. Volta ao cemitério, mas, desta vez, vais elogiá-los. Desse modo, eles responder-te-ão, com certeza.»

O homem voltou ao cemitério, mudou de tom e fez aos mortos os discursos mais elogiosos. Mas, mais uma vez, nada, silêncio… Verdadeiramente desiludido, e sentindo-se culpado por não conseguir ser suficientemente eloquente, o homem foi de novo ter com o Mestre. «Voltaram a não reagir», disse ele.

O Mestre olhou-o, sorrindo, e respondeu: «Pois bem, aprende que tu deves ser como eles. Quer te critiquem, quer te elogiem, isso não deve afetar-te. Não respondas.»

 
“Colocai a palavra ‘harmonia’ no centro da vossa existência, mantende-a em vós como uma espécie de diapasão e, sempre que vos sentirdes um pouco inquietos ou perturbados, fazei-o soar a fim de pordes todo o vosso ser em consonância com a vida ilimitada, a vida cósmica.

Vós dizeis que já conseguis harmonizar-vos com a vossa família, os vossos amigos, os vossos vizinhos, os vossos colegas de trabalho… Está bem, mas isso é insuficiente. Vós podeis estar em sintonia com a vossa família, com a sociedade, mas estar em dessintonia com a vida universal, e então, pouco a pouco, essa dissonância infiltra-se em vós e mina o vosso organismo psíquico.

Esforçai-vos, a partir de agora, por vos sintonizar com a vida universal; ela é que vos trará a saúde, a luz, a alegria, ela é que, por toda a parte onde passardes, fará de vós um fator de harmonia.”

 
“Saber sofrer é um dos maiores saberes que existem. Saber sofrer é uma das mais elevadas manifestações do amor. Nesse sofrimento, a alma prepara um perfume tão delicioso que o Senhor e os Seus anjos vêm deleitar-se com ele. Dos sofrimentos dos mártires e dos santos condenados e perseguidos por glorificarem Deus emanava realmente um perfume. E naqueles que sofrem porque se devotam aos outros, porque se sacrificam para os instruir e os preservar do mal, como fez Jesus, esse sofrimento aceite por amor exala o mais subtil dos perfumes.

Aceitai esta verdade, colocai-a em prática e possuireis uma resistência ímpar. Não comeceis a gritar à menor decepção, à mínima provação. Aceitai-as conscientemente, em silêncio, pois será desse sofrimento que fareis sair a alegria.”

 
“De uma forma ou de outra, todos sois alvo de uma ocupação: houve intrusos que se instalaram em vós. Sim, os intrusos são todos esses hábitos prejudiciais à vossa saúde física e psíquica. São, pois, inúmeros os ocupantes a que o homem tem de fazer frente, todos os impulsos interiores que o atormentam: o ciúme, a cólera, o rancor, a ganância, a gula, a sensualidade, o orgulho, a vaidade, etc. Mas, entre todos os ocupantes possíveis, o mais perigoso é, certamente, a preguiça. Porquê? Porque ela agarra-se à vontade e condiciona-a. A pessoa compreende o que deve fazer, sente que o deveria fazer, mas não tem vontade; e, como a vontade é o ponto de partida para qualquer decisão, as forças vivas é que são atingidas. Mas, no dia em que o intelecto tiver compreendido verdadeiramente o que é belo e bom, e o coração o desejar, a vontade acabará por ser obrigada a ir atrás. Então, isso será a libertação!”

 
“Vós achais que a vida é difícil, e é verdade; achais que os humanos são, muitas vezes, maus e ingratos, o que também é verdade. Mas será isso razão para estardes sempre revoltados, indignados, azedos? Não vos dais conta de que, com essa atitude, acabais por prejudicar-vos? Alguns dirão que não conseguem deixar de ficar indignados com aquilo que acontece no mundo e que, se se prejudicam, ninguém pode censurá-los por isso, pois é só a si próprios que estão a fazer mal. Pois bem, este raciocínio prova que eles não têm uma compreensão correta das coisas.

Os humanos estão todos ligados uns aos outros e, se vós estiverdes tristes, deprimidos, sombrios, isso reflecte-se nas pessoas com quem vos relacionais. Não desejais fazer mal a ninguém? Aparentemente, isso é verdade, não fazeis mal às pessoas, mas, na realidade, fazeis, porque propagais ondas e partículas negativas. Vós julgais-vos separados dos outros, mas estais enganados: os vossos pensamentos e os vossos sentimentos agem sobre os vossos pais, os vossos amigos, até sobre os animais, as plantas e os objetos que vos rodeiam. Aqueles que fazem mal a si próprios fazem mal ao mundo inteiro; por isso, não são mais inocentes do que aqueles contra os quais se indignam.”

 
“Pelo fato de saber mostrar-se receptivo, o ser humano pode tornar-se um mensageiro do invisível. Mas aqueles que se tornam demasiado receptivos são como uma esponja, absorvem tudo, aquilo que é bom e aquilo que é mau. Por isso, é preciso estar vigilante.

Muitas pessoas, quando pensam no mundo invisível, têm tendência para o imaginar unicamente povoado por espíritos luminosos e benfazejos. Não é assim! Do mesmo modo que a terra não é unicamente povoada por pessoas de bem, o mundo invisível é também povoado por entidades malfazejas, muitas vezes hostis aos humanos e que têm prazer em induzi-los em erro ou em persegui-los. Por isso, não deveis adotar, em relação ao mundo invisível, uma atitude de receptividade total; enquanto não tiverdes feito um trabalho prévio de purificação e de elevação interior que vos permitirá resistir aos ataques das forças obscuras, deveis mostrar-vos vigilantes e ativos.”

 
“Vós estais ocupados com qualquer coisa e, subitamente, tendes uma sensação de escuridão, de vazio, de solidão, que vos enche de angústia… Ficai a saber que, nessa situação, houve um intruso que se introduziu em vós; ou então foi a vossa consciência que, ao viajar, se desencaminhou para uma região hostil, pois isso pode suceder, e a qualquer pessoa.

Quando tendes uma tal sensação, não fiqueis sem fazer nada, reagi, pois essa sensação é como uma porta aberta para acontecimentos muito mais graves, que se seguirão automaticamente. Analisai-vos de imediato para compreenderdes o que vos levou a esse estado. Depois, pela oração, pela meditação, procurai encontrar o caminho que vos conduzirá para o meio dos espíritos da luz e da paz, e dizei-lhes que é só a eles que quereis abrir a vossa morada.”

 
“No momento em que agis, vós desencadeais inevitavelmente certas forças que produzirão, também inevitavelmente, certos resultados. Foi esta ideia de relação entre causa e consequências que começou por estar contida na palavra ‘carma’. Só depois é que ela passou a ter o sentido de pagamento por uma transgressão cometida. Pode dizer-se, pois, que o ‘carma’ (no segundo sentido do termo) se manifesta sempre que um acto não é absolutamente inspirado pela sabedoria e pelo amor divinos – o que acontece quase sempre. Mas o ser humano faz experiências e é preciso que ele se exercite. Essas experiências são desajeitadas, imperfeitas, mas não é grave, ele deve corrigir-se, reparar os seus erros, e para isso – é claro! – ele sofre.

Vós direis: «Mas, então, se ao agir se comete obrigatoriamente erros e será preciso sofrer para os reparar, não é preferível não fazer nada?» Não, há que agir. Evidentemente, sofrereis, mas aprendereis, evoluireis… e, um dia, deixareis de sofrer. Quando tiverdes aprendido a agir corretamente, quando todos os vossos actos e todas as vossas palavras forem inspirados pela bondade, pela pureza, pelo desapego, eles já não implicarão ‘carma’ e atrairão consequências benéficas. É aquilo a que se chama ‘dharma’.”

 
“Sempre que vencemos as tentações a que a nossa natureza inferior nos expõe, nós dispomos de uma força nova. O que é difícil é conservar esse estado de graça. Enquanto estamos na terra, não podemos manter-nos por muito tempo nos cumes até onde conseguimos elevar-nos. De cada vez, é preciso lutar para os reconquistar. Quando deixarmos a terra e formos para o além, já não precisaremos de lutar, pois já não estaremos submetidos às tentações. Mas, enquanto estamos aqui, devemos fazer esforços até ao último minuto.

Para se compreender melhor esta ideia, pode-se fazer uma comparação com a alimentação e a respiração: nós comemos ontem, devemos comer hoje e deveremos comer amanhã; acabamos de respirar e precisamos de recomeçar imediatamente. Uma experiência fez-nos compreender o sentido da vida, mas, para não perdermos esse sentido, devemos passar por outra experiência, e depois outra. Vencemos uma tentação? Seremos novamente tentados e de novo deveremos procurar vencer.”

 
“Que sentido tem essa tendência geral que existe para assinalar os erros dos outros? Por que se há-de atacar encarniçadamente homens e mulheres que se debatem com tantas dificuldades? O mais extraordinário é que, ao criticá-los, julga-se que se dá mostras de lucidez, de sabedoria e também de amor. Vós objectareis que ‘quem ama, castiga’, como se diz, e que o castigo começa pelas críticas. Estais enganados! Em inúmeros casos, o amor não consiste em criticar e a sabedoria também não. Amar os seres é compreender as suas dificuldades e agir com delicadeza a fim de aliviar os seus sofrimentos. Ora, a crítica serve mais para esfolar, arranhar, ferir. Isso já não é amor, mas carnificina. O verdadeiro amor não se mancha de sangue, é grandioso e luminoso. Por ele, vós ligais-vos a Deus, e Deus aconselha-vos os melhores métodos para agir com os seres.

O que é um bom crítico? Um bom agricultor que sabe podar as árvores, aprumá-las e libertá-las das lagartas e dos insectos nocivos. Ele preserva o que é bom, e logo surgem flores e frutos magníficos.”

 
“A escuridão pode causar um medo irracional: pode surgir um lobo, um ladrão, um assassino! Mas ela também pode causar um medo racional: quando não se vê nada, corre-se sempre o risco de chocar contra qualquer coisa, de cair, de se ferir.

Quanto mais a inteligência e a sabedoria aumentam no homem, mais ele se torna, não propriamente medroso, no sentido em que esta palavra geralmente é compreendida, mas atento. E, ao mesmo tempo, a sua audácia também aumenta, a audácia intelectual, mental. Ele desconfia daquilo que vem do instinto e do sentimento, pois eles podem toldar a sua visão; mas, em relação àquilo que é claro, límpido, ele torna-se audacioso. Por isso, os seres verdadeiramente inteligentes e instruídos são mais audaciosos do que os outros. Eles aventuram-se em regiões que a maior parte nunca ousa abordar e é a luz que lhes dá essa audácia.”

 
“Por que esperais que o vosso Mestre vos tire de todas as dificuldades? É a vós que cabe fazer esforços, aprender, exercitar-vos, porque esses esforços é que vos servirão para sempre. Se esperais continuamente que alguém venha socorrer-vos, livrar-vos dos sofrimentos, das doenças, das misérias, isso é possível, existem na terra seres que têm capacidades para isso. Mas um sábio nunca o fará, porque sabe que desse modo não vos ajudará, muito pelo contrário.

Um Mestre espiritual dar-vos-á tudo o que necessitardes no domínio dos conhecimentos e dos métodos, mas esperará que sejais vós a aplicá-los, para crescerdes, para vos reforçardes. E é isso a verdadeira evolução.”

 
“O centro do equilíbrio encontra-se nos ouvidos e, simbolicamente, a sabedoria está ligada aos ouvidos. O sábio é precisamente aquele que sabe manter o equilíbrio, que sabe sempre corrigir a situação. E, notai bem, a expressão ‘corrigir a situação’ significa bem que, na existência, as coisas têm sempre tendência para pender demasiado num sentido ou no outro e é sempre necessário restabelecer um equilíbrio.”

 
“Depois de terdes iniciado o caminho divino, esforçai-vos por não voltar atrás. E, para não se voltar atrás, o método mais seguro é estar vigilante nos menores atos da vida quotidiana. É inútil alimentar aspirações nobres se elas não forem sustentadas diariamente por uma atitude interior correta e também por um bom comportamento exterior. Cada pensamento, cada sentimento, cada ato, é importante, pois a existência é um todo e cada um dos elementos desse todo tem ligações secretas com os outros, nenhum está isolado.

A vida quotidiana constitui o alicerce sobre o qual construís todos os vossos grandes projetos. Quer estejais destinados à filosofia, à arte, à política, à ciência ou à espiritualidade, não basta conseguirdes adquirir competências nestas matérias. É toda a vossa vida que deve alimentar a vossa vocação.”

 
“Sempre que viveis um momento de tristeza, de desânimo, pensai que não existe nisso nada de definitivo e irremediável, esse estado não perdurará, há já uma felicidade que se prepara para vos visitar. Mas, entretanto, para não vos sujeitardes a esse estado passivamente, dizei para vós mesmos que é possível utilizá-lo para o vosso trabalho interior. Os sofrimentos são comparáveis ao húmus ou mesmo ao estrume que se põe junto das flores e dos arbustos para os tornar mais vigorosos, mais belos. Sim, também aqui existe uma analogia entre o plano psíquico e o plano físico.

E se estudardes como o vosso psiquismo reage a esta ou aquela solicitação vinda do mundo exterior ou do vosso mundo interior, descobrireis que é possível captar energias mesmo nos vossos estados mais negativos.

O que falta aos humanos é conhecerem as subtilezas da vida interior. Nós possuímos em nós todo um laboratório onde temos a possibilidade de procurar os elementos que nos permitirão ter a atitude correcta. É impossível descrever esses elementos assim, teoricamente; cada um deve encontrá-los por si, observando os efeitos que nele produzem os acontecimentos da sua vida quotidiana.”

 
“Em tudo o que empreendeis, procurai começar bem, pois o desenrolar de um processo depende daquilo que fizestes no começo. Sim, mas, para se poder ter um bom começo, é preciso ter sabido terminar correctamente aquilo que o precedeu. Esta regra tem uma aplicação em todos os domínios.

Quando começais um trabalho, procurai manter até ao fim a mesma atenção, o mesmo cuidado. E quando estabeleceis novas amizades, novos relacionamentos, estai também vigilantes, para que aquilo que começou por sorrisos, palavras calorosas, presentes, beijos e abraços, não acabe em confrontos, pois tudo o que termina mal influencia os encontros e os empreendimentos futuros.”

Deixe um comentário


sete − = 0