*fonte: http://ciclonatural.wordpress.com/2010/04/04/auroville/

Nosso amigo Daniel Caixão passou um tempão em Auroville e durante a sua estadia ele foi nos relatando por email a experiência que viveu no sul da Índia. Participante do projeto SVARAM, ele está de volta ao Brasil e continua mantendo contato e enviando sempre mensagens de paz e amor.

Daniel, tudo bom? Para começo de conversa, o que é Auroville?

No meu entendimento, Auroville é a construção de um sonho por uma Nova Humanidade. Na minha opinião, é uma das mais importantes iniciativas concretas, pelo resgate da fraternidade humana, através de um modo mais consciente e sustentável de viver.

Chegando aqui, entretanto, deu pra perceber que na prática é diferente, embora eu não possa desmerecer em nada essa grandiosa iniciativa. Percebo que há um esforço sincero por parte da maioria dos que aqui chegam, em busca de uma melhor qualidade de vida e de um ideal maior, em prol do planeta e das futuras gerações. Isso pra mim faz toda a diferença!

Há alguns pontos controversos que os próprios moradores de Auroville, conhecidos como aurovillianos, se dividem. Creio que isso é natural em qualquer familia, ainda mais em qualquer comunidade, e neste caso se trata de uma comunidade única. Ainda um exemplo a ser seguido, certamente!

E para quem vem de fora, há diferenças?

Bem, não conheço Auroville a fundo como um aurovilliano, mas compartilharei o que venho percebendo aqui como Guest (visitante).

Sim, tem diferença de quem mora em Auroville pra quem mora nas vilas vizinhas, pelo motivo claro da distinção de classes econômicas. A maioria dos aurovillianos são europeus que decidiram investir seus sonhos e economias na construção desse sonho, portanto tem uma condição de vida melhor do que a maioria dos moradores das vilas, que são pessoas humildes no sentido de poucos recursos financeiros.

 


Percebi também que os próprios indianos tem certo preconceito com “os brancos” (como eles chamam), mas de uma maneira muito sutil. Um amigo europeu me disse que pela frente eles são sorridentes, mas por trás muitos se sentem excluídos dentro de Auroville. Eu compreendo isso também, pois existe, como em todo lugar, uma certa burocracia e normas a serem seguidas, que acabam criando distinções entre as pessoas.

Só o fato de ter pessoas chamadas Aurovillianos (que passaram por todo processo burocratico para conseguir a “cidadania” de Auroville), os Newcomers (que estão neste processo, que envolve ficar 3 meses no mínimo como Guest, depois trabalhar mais 2 anos se não me engano em Auroville, até conseguir boas referências e eles te aceitarem como Aurovilliano), e os Guests (turistas ou visitantes de longo tempo como eu, que não tem interesse em estabelecer moradia em Auroville).

Muitos Aurovillianos, por exemplo, voltam alguns meses para seus países para trabalhar e juntar dinheiro para continuar aqui, pois é difícil conseguir se sustentar com poucas oportunidades de trabalho remunerado que tem aqui. São muitas questões e complexas que fazem dessa experiência uma iniciativa audaciosa e única no mundo. Muitos desafios, seres humanos com defeitos e qualidades como em qualquer lugar, mas a imensa maioria com um ideal em comum, e batalhando juntos para materializar esse sonho. E isso faz toda a diferença deste lugar!

Como foi seu primeiro contato com a situação Auroville?
Conheci esse projeto e todo o ideal envolvido através do mestre de Yoga Integral, meu querido irmão Murali Das, que me apresentou a filosofia maravilhosa ancorada aqui na Terra por Sri Aurobindo e sua companheira Mirra Alfasa (“A Mãe”, como costumava ser chamada), fundadora de Auroville.

Desde que planejei essa viagem, Auroville foi um dos meus principais objetivos em conhecer e vivenciar essa maravilhosa experiência.

Por que decidiu ir para aí?
Para poder aprender através da prática os valores, as dificuldades e desafios, além dos maravilhosos frutos, que podemos obter quando se decide viver de uma maneira mais harmoniosa com o Corpo, a Mente e o Espirito, tanto nosso quanto do Coletivo, tanto o pessoal quanto o social e ambiental.

Como é o seu dia-a-dia? E que atividade você está exercendo?
Em Auroville, eu participei do maravilhoso projeto SVARAM, idealizado e dirigido pelo querido amigo e verdadeiro mestre musical para mim, o Aurelio. Esse projeto trabalha com os moradores das vilas, através da construção de instrumentos e capacitação profissional e musical, retirando-os da ociosidade, e promovendo melhores oportunidades para eles. Além disso, como projeto cultural, busca levar educação através da arte e do resgate das tradicções locais, como tantos outros projetos daqui.

Após trabalhar neste projeto por algumas boas semanas, e ajudar na construção de flautas e outros instrumentos artesanais, busquei focar na divulgação do meu trabalho com a Música Orgânica, oferecendo vivências que foram muito bem recebidas por eles, inclusive para o público infantil.

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