“Quando Jesus dizia: «Sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito», ele não acreditava, evidentemente, que os humanos possam atingir a perfeição do seu Pai Celeste. Contudo, foi esse o ideal que ele nos indicou, porque é o único capaz de satisfazer a nossa necessidade de absoluto. É impossível que a nossa existência se limite à satisfação de algumas ambições. Nós devemos procurar o que é impossível de encontrar, caminhar para o inacessível, tentar o irrealizável.

É assim que permaneceremos sempre vivos e com alento. A Inteligência Cósmica previu tudo. Ao longo dos caminhos sem saída onde os humanos são tentados a transviar-se, ela ergueu obstáculos que os obrigam a dar meia volta. Ao passo que no bom caminho, mesmo sendo este difícil, eles nunca são detidos.

Pouco importa que o ideal seja irrealizável, ele está presente neles… idealmente. Ele participa todos os dias no que eles vivem, é dele que eles recebem a força, a paz e a alegria. Ao passo que, muitas vezes, os objetivos mais acessíveis fazem-nos perder essa força, essa paz e essa alegria.”

 
“A riqueza, o poder, o saber, a beleza… não vos lanceis em busca de todas estas vantagens que vos parecem tão desejáveis, pois elas não são suficientes para satisfazer a alma humana e a sua posse deixa-a esfomeada.

Para não gastardes inutilmente o vosso tempo e as vossas energias, deveis desejar algo irrealizável, eternamente inacessível, e esse ideal inacessível é o próprio Deus. Entre Deus e nós estende-se um espaço infinito. Mas, através desse espaço, existe um fio estendido, um caminho a seguir. Ao dirigirmo-nos para esse ponto que é Deus, nós passaremos obrigatoriamente por toda a espécie de estações, e essas estações são o amor, a beleza, o poder, o saber, a força.

Nós encontraremos, sem os procurar, todos esses tesouros a que aspiramos, porque eles nos esperam na estrada que conduz a Deus.”

 
“Uma vez que o Senhor possui todas as virtudes, possui também toda a riqueza do Universo. Era em função desta lei que, no passado longínquo, quando a ordem original das coisas era respeitada, a riqueza material só era dada àqueles que possuíam a riqueza espiritual, e aqueles que eram pobres espiritualmente também eram pobres materialmente. Agora, já não se vê esta ordem ser respeitada na terra, mas, como a lei é absoluta (tudo o que está em baixo deve ser como o que está em cima), um dia esta ordem será restabelecida e cada um reencontrará o seu lugar: aqueles que são ricos em inteligência, em bondade, em nobreza, receberão as riquezas materiais correspondentes, graças às quais poderão regozijar-se e fazer o bem. Aqueles que não tiverem essas qualidades deverão contentar-se com pouco.

Evidentemente, não serão os humanos a restabelecer esta ordem, pois eles não sabem quem merece e quem não merece; será obra da Inteligência Cósmica, pois a lei das correspondências é uma lei imutável no Universo.”

 
“Certos seres descem à terra com uma missão, mas pode acontecer que se afastem dela e cedam a certas tentações ao ponto de nada restar neles para lhes lembrar as promessas que fizeram. E foi assim que, ao longo dos tempos, houve grandes espíritos, Iniciados, que esqueceram a sua missão e se perderam numa outra via. É uma das dificuldades da vida espiritual: conseguir lembrar-se, pelo menos de um modo difuso, da promessa feita perante o Céu, e pôr tudo em marcha para a cumprir, sabendo desmascarar as pessoas e as situações que podem representar perigos, pois no caminho dos seres mais evoluídos também são colocados embustes de toda a espécie.

Aqueles que assim se perdem em caminhos ínvios não podem deixar de sofrer, pois aventuram-se em regiões que não são para eles. Há outros que se sentem aí muito bem? É normal, essas regiões correspondem ao seu grau de evolução. Mas aqueles que estavam destinados a viver e a trabalhar em regiões superiores onde nada lhes faltava para cumprirem a sua tarefa são perseguidos por tormentos terríveis.”

 
“De certas pessoas habitadas pelo ódio, pela violência e pelo espírito de destruição, diz-se que, por onde quer que elas passam, a erva já não cresce. Evidentemente, esta imagem é simbólica, mas não é exagerada. E, pelo contrário, outros seres, que são habitados pelo amor e pela bondade, deixam por toda a parte onde passam registros tão benéficos, que aqueles que vêm depois deles se sentem iluminados, aquecidos, vivificados. O conhecimento desta verdade não vos inspira a vontade de vos manifestardes por toda a parte como uma presença benéfica? Em todos os lugares onde vos encontrais, pelo menos durante alguns instantes pensai em pronunciar os melhores desejos: «Que todos aqueles que aqui vierem sejam tocados pela luz! Como todos são filhos de Deus, que lhes seja comunicado o desejo de trabalhar para a paz, para a fraternidade!»

Vós direis que nunca ninguém vos falou de tal prática. Mas por que é que é necessário que vos falem dela? É necessário sugerirem-vos que desejeis as melhores coisas para os seres que vos são queridos? Não, vós fazeis isso espontaneamente, pois os vossos sentimentos impelem-vos nesse sentido. Então, por que não havereis de pensar espontaneamente em formular também os melhores desejos para o mundo inteiro?”

 
«O tempo chegou. O Reino de Deus está próximo», dizia Jesus. Muitos farão notar que passaram dois mil anos desde que ele pronunciou estas palavras e que o Reino de Deus ainda está muito longe: a terra continua a ser um lugar de tantas desgraças, misérias, fomes e guerras! Então, como compreender esta profecia? Por intermédio do seu ensinamento, Jesus estava a lançar as bases do Reino de Deus.

Para aqueles que o compreenderam, ele já veio. Sim, na alma e no coração daqueles que estavam suficientemente preparados para que ele aí se instalasse, daqueles que eram capazes de aceitar e de aplicar o seu ensinamento de amor, o Reino de Deus já veio. Para outros, ele está próximo, está a vir. E, para uma terceira categoria, ele virá… não se sabe quando! Portanto, ele já veio, ele está a vir e ele virá… As três afirmações são igualmente verdadeiras.”

 
“Nós estamos na terra e a terra não é o jardim das delícias, como se chama ao Paraíso, somos aqui tratados duramente. Devemos começar o trabalho, senão continuaremos a colocar a nós próprios questões sem resposta. No estado atual da humanidade, ninguém pode evitar as provações, elas fazem parte da evolução. Essas provações são diferentes consoante os seres, a sua idade, as suas condições de vida, o seu grau de evolução, mas ninguém pode escapar a elas.

A criança e o adulto, o estudante e o professor, o pobre e o rico, o simples cidadão e o dirigente, todos têm de passar por provações, pois cada um tem certas verdades a compreender.

Aqueles que sabem como atravessar os períodos difíceis em que, na verdade, nada funciona, em que se sentem importunados, esgotados, ganham infinitamente mais do que se fossem de sucesso em sucesso. Mas, para isso, devem esforçar-se por ver o lado positivo da sua situação.”

 
“Mesmo para as melhores pessoas, o dinheiro pode ser uma fonte de tentações. É preciso ser muito forte para, no meio da opulência, viver a mesma vida espiritual que tendo apenas o estritamente necessário. Já procurastes entender por que razão os eremitas vão viver para os desertos ou os monges aceitam fazer voto de pobreza? É porque a riqueza não é a melhor condição para a vida espiritual, que exige tantas renúncias e esforços interiores!

Eles compreenderam que a verdadeira riqueza é ver com clareza e estar em paz. Sim, o que é essa riqueza que se obtém em detrimento de tudo o que é mais precioso em si?

A verdadeira riqueza é a dos pensamentos e dos sentimentos que se pode distribuir aos outros sem nunca se ficar mais pobre.”

 
“A verdadeira alegria é uma disposição da alma que, para além das dificuldades, dos obstáculos e dos desgostos, sente a vida como um dom de Deus pelo qual ela só pode sentir reconhecimento e necessidade de agradecer.

Se quereis ser visitados muitas vezes pela alegria, cultivai em vós esse sentimento de gratidão para com o Criador, mas também para com a Natureza e os seres humanos. Assim, mesmo quando não tiverdes qualquer razão para vos alegrardes, esse sentimento que vos habituastes a alimentar virá tomar-vos de surpresa. Como certos amigos que, por vezes, vêm inesperadamente visitar-vos.”

 
“Enquanto são jovens e têm saúde, os humanos nunca pensam no princípio de desagregação que opera neles e acabará por triunfar um dia. Eles têm tendência para pensar que o mundo lhes pertence e que o futuro nunca deixará de lhes sorrir. Que decepção quando eles sentem que, no plano físico, tudo começa a escapar-lhes! Nesta luta sem mercê que se trava entre o princípio de vida e o princípio de morte, alguns querem reter a vida por todos os meios e isso pode levá-los a cometer os actos mais insensatos: eles lançam para a batalha todos os recursos que deveriam utilizar para o seu trabalho espiritual e perdem tudo.

Nós não viemos à terra para cá ficar eternamente jovens e de boa saúde, mas para fazer um estágio, uma aprendizagem. O sábio é aquele que conhece a curva do caminho e se esforça por utilizar tudo. No mundo espiritual, a ascensão é ininterrupta. Aqui em baixo, faça-se o que se fizer, pouco a pouco ver-se-á a sua testa e as suas faces enrugarem, os seus cabelos embranquecerem, os seus dentes caírem, etc. Mas é preciso compreender que o aspecto exterior não tem qualquer importância se, por detrás dos cabelos brancos e das rugas, se manifestar a irradiação da vida espiritual.”

 
“Quem pode negar que o dinheiro é uma das principais preocupações dos humanos? Por um lado, é natural, pois ele proporciona-lhes os meios de subsistência, mas o perigo é que esse pensamento do dinheiro acabe por obnubilá-los: já não vêem as qualidades dos outros, tornam-se exigentes, duros, cruéis; só o dinheiro conta para eles.

Mas ser absolutamente indiferente ao dinheiro também não é bom. Todos aqueles que crêem que, para se ser espiritualista, há que viver sem qualquer preocupação material, na realidade tornam-se parasitas, fardos para a sociedade. Enquanto vivermos na terra e as coisas estiverem organizadas como estão, precisamos de dinheiro. Talvez no futuro se possa suprimi-lo e substitui-lo pelo amor; sim, pois o amor é uma moeda que ultrapassa todas as outras. Mas a humanidade ainda não conseguiu aceitar essa moeda e, como o dinheiro ainda será usado por um certo tempo, há que aprender a pensar correctamente a seu respeito para nunca se cair nas suas armadilhas.”

 
“O que são os vossos filhos? São sonhos, pensamentos e sentimentos que vós tivestes no passado e aos quais agora destes carne e osso. Ignorais quem fostes no passado? Pois bem, olhai para os vossos filhos; eles dir-vos-ão: «Observai-nos, nós vimos ensinar-vos muitas coisas sobre vós.» Para se conhecer a verdade sobre os seres, há que observar os seus filhos.

Podereis dizer-me que não sois casados e não tendes filhos. Também nisso estais enganados. Os vossos filhos podem ser igualmente os vossos atos e, portanto, todos os dias trazeis crianças ao mundo. Jesus disse que se reconhece uma árvore pelos seus frutos. Se os vossos frutos forem acres, amargos, ácidos, isso prova que, em vós, a mãe (o coração) e o pai (o intelecto) são defeituosos. A ação é um filho que só pode ser divino se o pai e a mãe o conceberam divinamente.”

 
“Aquele que quer ser bem-sucedido na vida deve possuir certas capacidades e trabalhar, evidentemente. Mas isso não basta. Para saber que direcção tomar, com quem se associar, etc., ele também deve ter discernimento.

E como adquirir o discernimento? Cultivando o desapego. Sim, pois o desapego confere ao homem a faculdade de ver claro. Pelo contrário, o egoísmo, a avidez, a cobiça, toldam-lhe a visão e fazem-no perder a lucidez: de tão obnubilado pela busca do seu interesse pessoal, ele olha o que se passa à sua volta como através de lentes que distorcem as imagens. Como não vê a realidade como ela é, o que ele julga que faz no seu próprio interesse fá-lo em detrimento de si próprio. Sim, contrariamente àquilo que as pessoas tendem a pensar, não é o egoísmo que ajuda necessariamente os humanos a resolver as questões a seu contento, mas sim o desapego.”

 
“O dinheiro e as posses foram sempre e em toda a parte uma fonte de confronto para os humanos. Observai simplesmente o que se passa numa família: quantos dramas por causa de heranças! A cobiça e a inveja é que mantêm não só as famílias, mas também as sociedades, os países, num estado de conflito permanente. Sim, as guerras têm sempre por origem a cobiça. Quaisquer que sejam os motivos que se apresenta, por vezes até muito nobres, o verdadeiro propósito é sempre ir tirar alguma coisa ao outro – o dinheiro, as terras, as riquezas do solo –, que, evidentemente, é forçado a ripostar.

Querer possuir nada tem de repreensível, se não for em detrimento dos outros. E aquele que é rico não deve guardar tudo para si, mas aprender a redistribuir as suas riquezas. Não existe ser mais rico do que o Senhor e o seu melhor representante na terra é o sol. O sol é tão rico que transborda. Por que não havemos de imitá-lo? Se não for com riquezas materiais, que talvez não tenhais, sede generosos com as vossas riquezas espirituais: a bondade, a compreensão, a indulgência, o perdão…”

 
“Pode-se comparar o ser humano a um banco. E qual é a função de um banco? Ele recebe capitais que depois gere. Um banco é tanto mais próspero quanto mais trocas puder realizar com um maior número de clientes. Essas trocas supõem a existência de uma coletividade e de relações com essa coletividade; um banco que deixasse de fazer trocas iria muito rapidamente à falência…

Do mesmo modo, os humanos que recusam viver em ligação com a coletividade privam-se da possibilidade de fazer trocas, ou seja, privam-se de ‘capitais’, e pouco a pouco perdem tudo, mesmo as suas próprias riquezas. Os Iniciados são ricos precisamente porque, sabendo que cada ser humano tem nele capitais que deve descobrir e valorizar, eles fazem trocas espirituais com toda a gente. Essas trocas trazem-lhes continuamente novas ideias, novos sentimentos, novas sensações, que são outros tantos meios à sua disposição para eles realizarem a sua tarefa.”

 
“Cada domínio exige que se conheça quais os métodos e utensílios a utilizar. Vós direis: «Mas toda a gente sabe isso!» Não, muitos espiritualistas fazem como alguém que, tendo fome, concentra o seu pensamento para atrair os alimentos até à sua mesa, quando apenas precisa de se levantar para ir buscá-los às prateleiras. Eles têm braços, pernas, olhos, ouvidos e uma boca para obterem aquilo de que necessitam no plano material, mas, em vez de trabalharem, preferem importunar o Céu com os seus pedidos: «Senhor, dá-me o sucesso… Senhor, faz com que eu ganhe mais dinheiro… Senhor, faz com que eu recupere a saúde… Senhor, envia-me amigos…» Mas o Céu não fica contente e diz-lhe: «Escuta, meu caro, foi-te dado tudo o que é necessário para obteres aquilo que desejas. Por que é que estás a ser tão ignorante e preguiçoso?»

Quando se trata de progredir espiritualmente, é o pensamento (a meditação, a oração, a contemplação) que é preciso utilizar. Mas, em relação ao resto, o que há a fazer é arregaçar as mangas e pôr-se a trabalhar.”

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